Exposição de Artes - Natureza: A arte como matéria prima, por Lara Donatoni Matana e Eliana Martinez. De 06 a 31 de Julho na Galeria de Artes do SESC Arsenal! (Entrada Franca)
A POÉTICA DA NATUREZA DESNUDA entre ativismo e arte na Obra de LARA DONATONI MATANA.
Por Caroline Araújo
Em determinados momentos conceituar o que vem a ser uma poética, é nos agarrar a opiniões prontas, pelo fato de constantemente perdermos nossas ideias, ou parte delas devido a incessante estimulação dos sentidos que sofremos. Nesta ótica, precisamos ser “tocados” por algo para começar nossa busca de respostas ( ou perguntas), onde nos deparamos com um processo de conhecimento irreversível. Mas isso só nos atravessa e move porque somos incompletos. A incompletude nos coloca numa locomotiva de pensar o instante passado como um fiapo de algo para o instante por vir.
Essa locomotiva “pensante” “ziguizagueia” e nos conduz ao pensar existência, pensar que antes de sermos humanos, somos não humanos. Bactérias que evolutivamente ultrapassaram formas para chegar a estágios avançados e que, de forma constante se auto produz. Assim podemos pensar que, o conceito deAutopoiese de Maturna e Varela[1] de fato nos trilha na essência humana. Se o homem em si é autopoiético, o que emana desse ser em essência também o é. E pensar que para se autoproduzir é necessário não ter fronteiras peremptoriamente demarcadas é pensar que em si, somos abertos e que somos, antes de humanos, uma forma de obra de arte.
Toda obra de arte é uma grande composição criativa, e o homem nada mais é que uma emaranhado de redes interconectadas, que atravessam-se na sua própria autoprodução e que se conserva; evoluindo e sendo modificado pelos engendramentos e polissemias que se avolumam afetando uns aos outros, com mais de uma possibilidade de compreensão. Humberto Eco[2] nos mostra que a descentralização e ampliação dos horizontes inimagináveis são necessárias para a compreensão da realidade que agora se cristaliza. Não tem como entender o mundo plural da contemporaneidade com seu homem multifacetado sem uma compreensão de arte proporcionalmente descentralizada e pluralizada.
O mundo é o homem transformado ao mesmo tempo que ele se auto transforma e transforma consequentemente o mundo e ai temos um intenso FLUXO de possibilidades. O fluxo mantem a cultura em movimento, as pessoas enquanto atores e rede de atores, a historia, costume e tradições em transito e atravessamentos constantes. O fluxo remete a uma espécie de continuidade e passagem que desembocam em certos “limites”. BARTH[i], cujo os trabalhos na década de 60 contribuíram para pensarmos nos limites como algo através do que se dão os contatos e interações; nos mostra que eles podem ter um impacto na forma e na extensão desses contatos, mas não contêm dentro de suas fronteiras isolamentos naturais.
Se ser humano e o que se emana dele são formas de arte, a arte também ganha conotações ativistas. Arte ativista não significa apenas arte- politica, mas, também, um compromisso de engajamento direto com as forças de produção não mediada pelos mecanismos oficiais de representação. Lógico que isso deriva do projeto poético que o artista se coloca em busca, onde consiste a compilação de variantes fatores internos e externos vivenciados pelo sujeito artista, no caminhar da construção de sua obra.
Artistas partem muitas vezes de uma ideia, um instinto inquietante na feitura de tecer sobre determinada matéria – física ou intelectual| imagética – um ponto de vista; uma opinião, uma paixão, uma vivência. O contato com o cerne lenhoso, poeirento e cheio de nós que a madeira exala, provocou um “fluxo” produtivo no instinto artístico da escultora Lara Donatoni Matana de uma forma tão voraz que inverteu o olhar da mesma para a arte e passou a utiliza-la como vetor de ativismo para a questão ambiental.
Não existe uma forma de mensurar onde a madeira termina e onde a escultora começa. Ambas se fitam, conversam e se encontram desnudas de conceitos e revelando a força que o homem possui ao encontrar o equilíbrio com a natureza ao mesmo tempo em que desta resignifica o olhar sob as artes. A interconectividade de alma, entre um devir ativismo em um ambiente que pujantemente grita, enquanto desconsertadamente, esquecemos de onde viemos e para onde vamos. Se antes de tudo somos não humanos, se somos uma forma de obra de arte , somos antes disso natureza. E a ela, devemos respeito, cuidado e preservação.
A obra construída por Lara, nesses mais de 12 anos de produção artística dialogando com a madeira, mostra que, nem mesmo no fim, um final absoluto existe. De restos, retalhos, dejetos um novo recomeço faz se possível. O impensável prova que a relatividade das ações, sejam sociais, artísticas, politicas, são tangíveis. Basta passar a usar, como disse Appadurai, a imaginação livre em nossa mente. Nossa arma mais poderosa. Nossa alma mais voraz. Nossa essência mais intensa.
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Fonte: Sesc Arsenal